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Crianças que fazem a diferença

Postura crítica e autonomia determinam atitudes de defesa do meio ambiente

KARLA GIGO
Eduardo Henrique Casagrande Silva tem apenas 7 anos, mas já recicla o lixo e briga constantemente com seus familiares quando esquecem as luzes acesas ou deixam a água escorrendo sem necessidade. “Se deixarmos a torneira aberta os peixes no rio ficam sem água”, denuncia o jovem ambientalista.
A prática da sustentabilidade já é compartilhada com o irmão, André Henrique Casagrande Silva, de apenas um ano. “Vou ensinar para ele tudo o que eu sei, como, por exemplo, que temos que tomar cuidados para não deixar o lápis de cor cair muito no chão, porque cada vez que apontamos mais árvores são usadas”, ressalta.

Estela Rodrigues separa o lixo e faz o descarte consciente
Foto: Marina Campos 
A atitude de Eduardo não é um caso isolado de criança ecologicamente correta. Cada vez mais cedo elas têm adotado práticas sustentáveis. E o estímulo para esta consciência ambiental pode partir dos próprios pais, familiares, amigos e da escola.
Claudia Maria Alves de Oliveira, encarregada de departamento de pessoal e mãe de Gabriel Alves Machado de Oliveira, de 9 anos, já ‘levou pito’ do filho. “Certa vez eu sem querer joguei um papel para fora do carro. O Gabriel virou pra mim e disse: ‘não mamãe, você não pode jogar, porque vai para o rio e polui’. Ele tinha apenas quatro anos quando isso aconteceu”, conta.
E a opinião sustentável e postura de Gabriel são compartilhadas pela estudante da 5ª série Mirian Estela Rodrigues, de 11 anos. Ela e sua avó controlam o tempo de banho de todos da casa, onde moram cinco pessoas. E a estudante justifica: “Eu vi na escola os rios transbordando, pois estavam entupidos de sujeira. Aquela imagem ficou na minha cabeça e então eu resolvi tomar uma atitude”.
Estas situações, segundo o jornalista Heródoto erHeeródoto Barbeiro, da rádio CBN Notícias, mostram que “a educação não se resume à sala de aula, e sim ao espaço aonde você exerce a cidadania”. E hoje em dia são muitos e diversos os espaços nos quais o tema pode ganhar destaque.
Laura Lopes, idealizadora do Panp usa sacolas
retornáveis para fazer compra
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O MSN, serviço de mensagens instantâneas do Hotmail, serviu como incentivo para Laura Lopes, de 11 anos. Após ver mensagem sobre o desmatamento no país e a quantidade de animais que morriam em virtude disto, mudou seu comportamento. “Antes eu achava que isso era coisa para os adultos se preocuparem. Hoje eu não deixo meus pais fazerem compras utilizando sacolas plásticas”, enfatiza.
Laura levou a iniciativa tão a sério que montou um projeto e apresentou para um grupo de amigas de sua turma na escola. Giovanna Coelho, Ana Carolina de Melo, Carolina Baltieri e Lavínia Bettoni foram ‘convocadas’ a ajudar. Da preocupação de Laura surgiu o Projeto Ajudando o Nosso Planeta (Panp), que levou à produção e divulgação, na escola, de cartazes com informações e imagens ligadas ao desmatamento, filhotes de animais sem mães, em perigo ou mesmo em extinção; reciclagem do lixo, entre outros assuntos.
“Com certeza a nossa iniciativa surtiu resultados e isso ficou nítido no nosso colégio. O pátio ficou mais limpo após os intervalos. Antes a quantidade de lixo era muito maior”, avalia Lavínia.
Além de pôr em prática a atitude sustentável na escola, as meninas do Panp aplicaram os novos hábitos em casa e mudaram a rotina dos pais. “Minha mãe usava saquinhos plásticos para carregar as compras do supermercado. Agora ela usa caixas de papelão que o supermercado oferece. Até os óleos de cozinha usados são encaminhados para uma instituição que os recolhe, e as pilhas ela descarta no banco”, explica Ana Carolina.
No caso de Marcelo Mischiatti, 11 anos, a postura sustentável foi estimulada na escola, a partir da proposta de trabalho de um de seus professores. “Resolvi abordar a questão do meio ambiente para desenvolver um trabalho de conscientização. O objetivo foi mostrar quanto tempo cada material demora para se decompor na natureza”, conta.
Para Vinícius Olivetto Fernandes, também de 11 anos, o exemplo vem de casa e envolve criatividade e diversão. “Minha mãe separa o óleo de cozinha para fazer sabão, e ela mesma faz. Já eu reutilizo as sacolinhas plásticas. Elas viram rabiola para as minhas pipas”, diz.

Brinquedos sustentáveis incentivam preservação 

Eduardo Casagrande Silva brinca com
os "pés de lata"
Foto: Karla Gigo
     A produção de brinquedos, aliás, é uma ótima estratégia para a educação ambiental com crianças e existem muitos exemplos de sucesso neste campo. A avó de Eduardo Henrique Casagrande Silva, o ensinou a fazer ‘pés de lata’. “É só pegar duas latas de leite em pó, fazer um furo de cada lado, passar uma corda por dentro de cada uma das latas e depois amarrar. Pronto. Depois é só subir neles e andar”, explica o garoto.
Segundo a coordenadora de educação ambiental do Consórcio PCJ, Andrea Borges, a introdução de jogos didáticos, maquetes e a brincadeira auxiliam na promoção da educação ambiental para crianças. “É fundamental para que elas possam observar e sentir na pele o que estão fazendo e o que a aquela atitude tem a ver com o meio ambiente. É o que chamamos de aprender brincando”, afirma.
Andrea ressalta que investir na conscientização das crianças é muito produtivo, pois elas ainda estão desenvolvendo opiniões próprias sobre os assuntos. “Quando se trabalha um adulto, que já há muitos anos escovou o dente com a torneira aberta, fica difícil criar nele um novo hábito. Mesmo porque muitas vezes esses atos são feitos inconscientemente”, argumenta.


Mídia consciente

Um dos grandes desafios na área da educação ambiental é produzir e difundir informação de qualidade e, na opinião do jornalista e escritor José Pedro Martins, a mídia hoje ocupa papel de destaque neste cenário. “A responsabilidade que os meios de comunicação têm na formação do cidadão é muito grande, pois desenvolvem o senso critico das pessoas. Isso acontece ainda mais com os jovens, que ainda estão formando a opinião em relação a vários assuntos”, avalia Martins.
A televisão é o veículo de maior influência, como diz o jornalista Heródoto Barbeiro: “A televisão tem o papel até mais relevante que outras plataformas. Ela é o grande veículo de comunicação do século 20, e não estou falando do século 21, pois este é da internet. Todos os lares brasileiros têm televisão. O brasileiro assiste uma quantidade de horas de televisão maior que nos outros países do mundo”.

Crise na escola pública também se deve à mídia, diz Martins 


Mas, a questão não é somente de massificação da informação, e sim de qualificação, do contrário corre-se o risco inclusive de se desgastar certos conceitos. Martins adverte: “Hoje a sustentabilidade virou uma palavra da moda. Hoje tudo é sustentável, assim como há alguns anos tudo era ecológico. É preciso ter um pouco de noção do que significa sustentabilidade e também ter muito cuidado com o que a gente fala, para que o conceito realmente seja transformador. No fundo trata-se de um desafio para as pessoas mudarem seu estilo de vida”.
A qualidade da informação também é ressaltada pelo jornalista André Trigueiro, um dos principais especialistas do país em jornalismo ambiental. Em sua opinião, o envolvimento com o tema também pressupõe certo grau de engajamento. “Ser bem informado com relação ao meio ambiente, significa estar preocupado”, enfatiza.
Para a coordenadora de educação ambiental do consórcio PCJ, Andréa Borges, a mídia é essencial para a formação do jovem. “Hoje se fala muito de ‘educomunicação’, que é toda essa parte de como a comunicação tem a ver com a nossa educação, e eu acho que tem tudo a ver. Esse papel de uma formiguinha, em que cada um faz a sua parte, e a mídia tem como fortalecer.”


* Reportagem publicada no caderno Ponto Final do Jornal de Piracicaba. Produção: Papo Sustentável.